Numa Era em que ainda se protegiam quedas com tacos de pau entalados nas fendas das rochas, lá para os idos de Setembro de 1980 andou uma cordada a esgravatar uma bela linha na
"Parede do Calhau dos Alhos". Parede branca de tons, com muros, diedros
e tectos desafiantes, alcandorados a pique durante mais duma centena de
metros virados ao mar.
Tentativa de 1980. Paulo Alves nas panças do L1 foto: col. P.Alves
Paulo Alves e Carlos inauguraram com esta tentativa 2 primeiros lances, nesta respeitável falésia.
P. Alves regressa nos inícios dos anos 90 acompanhado de Francisco Silva, acrescentando mais um lance, porém, sucedem-se vários anos sem a boa conclusão de sair por cima.
Paulo Alves abrindo no tecto-diedro do L2. foto: col. P.Alves
Carlos no L2. foto: col. P.Alves
A parede ainda viu mais uma ou outra tentativa de Paulo Roxo, e, recentemente, em cordada com João Gaspar surgiu a linha "cascawall" e com a Daniela Teixeira a via Rocha Podre e Pedra Dura. Linhas que acrescentaram valor e interesse à parede.
Aproveitando as poucas oportunidades invernais, o que subscreve junto com Nuno Pinheiro, desarmam, desde cima, três lances de muralha minada de lajes agro-precárias.
Após mais um pouco de trabalho de recuperação dos lances de baixo, esta via é finalmente ascendida completamente.
Eis, aqui um dos grandes itinerários da Arrábida com bom sabor aéreo. Uma proposta para dias frescos e de verdadeiro ambiente "de parede".
Resultou o nome de Era velha para este traçado cobiçado desde há tantos anos e que liga escaladores de épocas diferentes num mesmo empreendimento.
Foto: J. Gaspar via P. Roxo, RPPD.
Breve descrição:
1º lance, 6b+, 20m: entrada paralela logo à direita da RPPD, atravessar à direita por baixo de umas panças corn flake, superar os ressaltes de tuvenan e brita até à fissura vertical de #4, seguido de um piton. Logo acima desta passagem e directamente abaixo do tecto-diedro, montar reunião sem gastar friends medianos. Este lance protege-se inteiramente com friends e fitas largas. 2 tacos e um "angle" ferrugento completam a oferta museológica desta via. É o lance de rocha mais "suja". A partir daqui só pode melhorar.
2º Lance, 6a, 12m: Tecto-diedro de desfrute total. Por opção própria montamos a 2ª reunião à altura do spit, no final do tecto, já que, dado o estado da rocha que se segue, era o sítio mais abrigado da eventual queda de pedra. Proteção a gosto, com friends. Uns uns três tacos cravados de baixo para cima e o citado spit m10 da reunião, mostram como se fazia antes.
3º lance, 7a+, 25m: duas parte compõem este lance, um primeiro muro fissurado, com algum piton, passando ao lado da velha reunião original, em direcção a extraprumo difícil, com algumas delicadezas minerais. Saindo do extraprumo segue-se um piton no canal-diedro, fácil, até à reunião no final deste canal.
4º lance, 7a, 25m: saída com tendência à direita pelos tectos aéreos. Muro estético entrecortado de fissuras diagonais. Passagem da pança até à reunião da "figueirinha". Largo com o melhor ambiente de parede. Duas chapas, tudo resto fácilmente protegível com um jogo de friends.
5º lance, 6b, 15m: saída da reunião da "figueirinha" pela bavaresa fina. Entrar no muro cinzento e compacto, protegendo com algum microfriend e fissureiro pequeno. Reunião junto ao jardim suspenso. 3 chapas.
6º lance, 6c, 25m: saída pela fissura. Aos poucos metros quando esta fissura se torna mais terrosa, atravessar para a direita (chapa) e daqui enfrentando o muro, com algum passito mais técnico, com rocha mais delicada, em direção a uma fissura final. 3 chapas.
O Acesso a esta parede faz-se desde a serventia do Fojo. Em vez de tomar o carreiro de acesso às vias do Fojo, continua-se a descer o estradão até chegar a uma bifurcação deste caminho com um carreiro estreito mas bem definido, entre os arbustos frondosos, à esquerda.
Para referencia de orientação, iremos passar sempre à direita da arredondada colina do Fojo.
Seguir este carreiro até um cruzamento, continuando ainda em frente, agora em ligeira subida, até quase ao final do caminho que servia antigas extrações de pedra. Descer atravessando os depósitos de escórias destas pedreiras, até ao carreiro de pescadores descendente, que em vários e criativos lacetes, nos vai aproximando da base da parede. É um caminho longo mas compensa pela grande envolvente natural e "selvagem".
Alguns aspetos de estratégia para esta parede:
Época - O verão e qualquer dia com temperaturas acima dos 25º, à partida, não será nada recomendável.
Escolher dias frescos sem demasiado vento.
Consoante a época do ano, o Sol esconde-se para além da crista do píncaro à tarde, e na verdade , os cerca de 125 metros da via são exequíveis numa tarde sem pressas.
Material - 1 jogo de friends até #4, repetir do #0,75 ao #2 camalot ou equivalente, alguns fissureiros pequenos, semáforo de aliens, varios anéis de fita de 60cm (uns 6), 2 anéis de 120cm para reuniões; umas 10 expressos (4 para chapar o resto para prolongar). Os capacetes são imperativos para quem tiver alguma coisa a proteger.
A via não está preparada para rapelar (sem abandonar material) e cordas simples de 50 ou 60 podem não chegar para esse fim. De qualquer forma a via segue algumas travessias que não facilitam a descida em rapel e a subida de retorno pelo trilho é penosa.
Se todos os membros da cordada ambicionarem o encadeamento ou uma jornada mais prazenteira recomenda-se rebocar a mochilita dos agasalhos, comida e bebida, com uma cordelete, caso contrário o 2º sofre que nem um cavalo, com o peso e volume.
As reuniões são suspensas do arnês, com agum apoio razoável de pés ou "encosto".
Para mais informação sobre esta parede: Blog RPPD
FP
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sexta-feira, 10 de maio de 2013
terça-feira, 30 de abril de 2013
Vias novas na Muralha
Para quem não conhece a Muralha é uma parede que fica do lado nascente do Fojo. A maioria das vias foram abertas há mais de 20 anos pelo Paulo Roxo que em breve vai disponibilizar o croqui no blog Rocha podre e pedra dura. Recentemente eu (Nuno Pinheiro) e o Fernando Pereira abrimos mais duas vias e re-equipamos as 4 reuniões da linha de rappel.
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Croqui cedido pelo Paulo Roxo |
Via aberta de baixo. 1 jogo de friends ( BlackDimond do 0.3 ao 3) repetir do 0.3 ao 1 , mais uns micro e entaladores.
L1 - 6a+, 12m, começa num esporão de rocha branca à direita da via “Pânico, horror e dor ”, difícil de proteger, entaladores pequenos dão jeito. Reunião não equipada no filão podre que atravessa a parede na diagonal. Uma alternativa bastante lógica é entrar pela via “Pânico, horror e dor” e juntar com o largo 2 fazendo só um largo. Rocha de razoável qualidade.
L2 - 6c, 15m, atravessar para a esquerda até estar por baixo de um pequeno diedro. A via vai um pouco aos s’s para se proteger melhor, é aconselhável levar fitas ou cordas duplas para diminuir o atrito. Reunião equipada coincidente com a da via “Oceânica”. Rocha de razoável qualidade.
L3 - 7a+, 25m, no inicio há duas fissuras evidentes a linha segue a da direita atravessando para a esquerda um pouco depois do final da fissura. Perto do final do largo numa zona de difícil proteção colocamos um perno. Reunião equipada coincidente com a da via “Oceânica”. Rocha de grande qualidade.
11 - Javali aperta aqui
1 jogo de friends ( BlackDimond do 0.3 ao 3)
7b, 25m, começa numa fissura evidente por cima de um pequeno teto de rocha menos boa. Rocha de grande qualidade com buracos, chorreiras e placa estilo cama de pregos. 3 pernos (inclusive no crux). Qualquer uma das vias entre a 2 e a 7 inclusive permite aceder à via, pois forma uma varanda relativamente confortável.
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terça-feira, 23 de setembro de 2008
Gruta dos morcegos (casa da Carochinha)
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Em Julho último, depois de dar cabo da ratazana da cova do Fojo com umas quantas vassouradas e bombadas e para aproveitar a embalagem que essa via provoca nos costados, equipei com o Mike uma nova linha nessa gruta. A via percorre o tecto entre o “Passeio dos Deuses” e o “Tecto do João Ratão” e, como nessas vias, mantém-se a obrigatoriedade de cair de mãos a abanar, i.e., com o cordel justinho q.b..
O nome desta via apenas poderia ser um pois casa no fim (top) com o João Ratão. E, caros amiguinhos, nós bem sabemos quem é que casa com o João Ratão. Mas mais detalhes desta história da Carochinha podem encontrar-se no V-Duríssimo (senão já, brevemente).
O Croqui actualizado deste sector, situado 2 m a.s.l. e a 45 minutos da estrada, foi desenhado sobre uma fotografia de alta qualidade e encontra-se aí mais abaixo, no fim do postal. A via encontra-se com o grau interrogado porque na altura o rei da selva de pedra ainda não tinha passado por lá. Entretanto, o bombador/triturador/vincador implacável já deixou uma proposta de 8a+. Nota: Excepcionalmente, tivemos a sorte de apanhar nessa mesma foto o João Ratão a escalar a sua via. Na outra fotografia, esta já de muito menos qualidade, podem ver o Miguel (Miguelin) Loureiro lá pendurado.
Ah, é verdade e uma última nota. Tinha deixado 5 expresses nessa via e quando cheguei lá, três semanas depois, tive a agradável surpresa de terem roubado as duas expresses mais acessíveis. A surpresa é agradável pois é um sinal de que a comunidade de escaladores está finalmente a atingir uma dimensão considerável, ou seja, até já existem escaladores/trepadores filhos-da-puta. Este é mais um bom sinal, juntamente com as talhadas no granito, de que a escalada portuguesa se desenvolve a olhos vistos.
Em Julho último, depois de dar cabo da ratazana da cova do Fojo com umas quantas vassouradas e bombadas e para aproveitar a embalagem que essa via provoca nos costados, equipei com o Mike uma nova linha nessa gruta. A via percorre o tecto entre o “Passeio dos Deuses” e o “Tecto do João Ratão” e, como nessas vias, mantém-se a obrigatoriedade de cair de mãos a abanar, i.e., com o cordel justinho q.b..
O nome desta via apenas poderia ser um pois casa no fim (top) com o João Ratão. E, caros amiguinhos, nós bem sabemos quem é que casa com o João Ratão. Mas mais detalhes desta história da Carochinha podem encontrar-se no V-Duríssimo (senão já, brevemente).
O Croqui actualizado deste sector, situado 2 m a.s.l. e a 45 minutos da estrada, foi desenhado sobre uma fotografia de alta qualidade e encontra-se aí mais abaixo, no fim do postal. A via encontra-se com o grau interrogado porque na altura o rei da selva de pedra ainda não tinha passado por lá. Entretanto, o bombador/triturador/vincador implacável já deixou uma proposta de 8a+. Nota: Excepcionalmente, tivemos a sorte de apanhar nessa mesma foto o João Ratão a escalar a sua via. Na outra fotografia, esta já de muito menos qualidade, podem ver o Miguel (Miguelin) Loureiro lá pendurado.
Ah, é verdade e uma última nota. Tinha deixado 5 expresses nessa via e quando cheguei lá, três semanas depois, tive a agradável surpresa de terem roubado as duas expresses mais acessíveis. A surpresa é agradável pois é um sinal de que a comunidade de escaladores está finalmente a atingir uma dimensão considerável, ou seja, até já existem escaladores/trepadores filhos-da-puta. Este é mais um bom sinal, juntamente com as talhadas no granito, de que a escalada portuguesa se desenvolve a olhos vistos.
Um agradecimento ainda ao Hugo 50 que com três horas de sono se prontificou para ir comigo acabar de furar a via (ao contrário de um sorna que ficou a dormir depois de garantir que ia).
Por FCS
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
Novo Fojo Novas Vias
Já há muito tempo que ouvia falar numa grande parede adjacente ao Fojo mas, tirando alguns relatos sobre tentativas frustradas de abrir vias, nada sabia de concreto acerca desta falésia. Era mais um caso de uma possibilidade do mítico “El dorado” português que faz parte do imaginário de qualquer equipador que, nesta terra, tem que caçar com gato ou fazer do gato-sapato.
Parece que no tempo em que os animais falavam o Emílio e o Gorjão já lá tinham tentado equipar umas vias na parte superior da parede mas foram traídos pela bateria. Por sua vez, o Roxo também tentou conquista-la vindo de baixo mas desistiu ao fim de alguns metros de rocha podre. O que, tratando-se de quem é, nos deixa a pensar em cascalheiras verticais e em entulhos periclitantes. Bastante mais tarde, o Francisco teve o sonho de abrir uma linha dura de alto abaixo mas, porque o mundo é grande, nunca passou da fase de reconhecimento com um rappel de 100m e um jumareio de 120m.
Eu, embora muito curioso de ver esta parede, acabei sempre por adiar o dia de lá ir. Talvez por preguiça, pois uma parede com mais de cem metros implica uma logística complicada e umas costas frescas (o que raramente me acontece).
Quando o Gaspar e o Loureiro se propuseram lá abrir uma via, acompanhei a aventura de perto, desejoso de poder escalar e ver que possibilidades haveriam para novas vias. No final de cada um dos muitos dias que esta dupla dedicou a esta empreitada, aka, obras de Santa Engrácia, eu ligava a melgar, pedindo novidades. Na primeira oportunidade fui conhecer as vias e fiquei motivado para explorar melhor a parte de cima da parede, sem dúvida a mais sólida e mais apelativa. Como quase sempre acontece, o sonho do “el dorado” desvaneceu-se e a crua realidade veio ao de cima: um ambiente fantástico sobre o mar mas uma parede sofrível com algumas linhas que pareciam sair interessantes.
Esta minha passagem pela parede foi há três meses atrás mas só na semana passada é que me decidi a ir lá equipar. Afinal, aquela parte superior da parede superou em muito as minhas expectativas, uma parede contínua em rocha de alta qualidade, com algumas chorreiras tipo Kalimnos e um alto ambiente “atlântico”, em suma, pouco potencial mas cinco estrelas.
Resultado: mais uma nova via de dois largos e outros dois largos com uma reunião comum. Destes largos, três já estão encadeados faltando a "Terra de Cegos" que ainda não está limpa pois foi equipada ao lusco-fusco. (As vias "Terra de Cegos" e "Profecias de Nostragramos" têm essa reunião comum três metros abaixo da "Vamos aos Ninhos" para ser possível rapelar sem roçamento de corda, esta reunião esta só com plaquetes e não tem maillons)
Acesso (plágio, roubado aos primeiros equipadores da parede): Rappel pelo topo da falésia. Deixar o carro no mesmo estacionamento do Fojo. A meio do caminho para o Fojo, virar à direita ao chegar às clareiras. Seguir no estradão em direcção a Oeste cerca de 1mn. Ao chegar a um cruzamento em forma de triângulo com arbustos rasteiros, virar em direcção ao mar. Andar 2 min. por um caminho de pé posto até ao topo da falésia (se estiver a arranhar demais, voltar atrás e procurar o caminho certo). É possível rapelar por qualquer uma das vias pois todas elas começam num género de varanda onde foi equipado um corrimão que une as várias vias. A parede só se encontra à sombra a partir das duas horas da tarde (pelo menos em Agosto/Setembro).
Por último tenho de agradecer ao Gaspar e ao Loureiro por terem deixado estas vias para eu equipar e à Diedro e Espaços Naturais pelos bons descontos em material.
Nuno Pinheiro.
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