fotos: cortesia de M. Catita
Os costados Atlânticos mais selvagens da Roca, estão repletos de pequenos sectores com vias de desfrutar e de dificuldade variada.
A rocha, no geral, não sendo a mais compacta do mundo é suficientemente sólida para elevar as suas vias a uma categoria que tem tanto de bom como de desconhecido. Também os acessos não sendo dos mais curtos e fáceis, não oferecem dificuldades de maior aos visitantes habituais.
Não é o caso na Baía do Terror. Aqui o compromisso faz jus à fama. Um alcantilado profundo, com uma aura opressiva e ameaçadora, de aspecto caótico e frágil. Açoitado em pleno, pelas vagas ruidosas de Noroeste.
Esta reentrância monumental é covil da exposição, dos ressaltes abundantes, equipamento fixo escasso, frequentes troços de rocha instável e um assinalável ambiente aéreo capaz de alterar o funcionamento gástrico a mais de um.
Aqui a própria natureza trata de se esfoliar continuamente, sem precisar de recorrer à Corporación Litostética ou ao Dr. Talhon.
Na Baía do Terror precisamente, nasceu em Agosto, mais uma via de autoprotecção: “Realidade Separada”. Inicia-se numa rampa fácil que dá acesso a três largos novos: Um primeiro, proposto de 6b, que foi bastante laborioso de sanear e é algo delicado de proteger, repleto de salientes.
Em partes será algo como subir o perfil dentado de um serrote. Ao aproximar-se da reunião a rocha vai-se tornando mais instável.
A primeira reunião é montada entre blocos, num terraço, com entaladores ou friends medianos.
De acrescentar que é possível por meio de um longo troço de corda, aproveitar-se duma plaquete de reunião da via vizinha, para reforço das ancoragens.
Fotos cortesia de M.Catita
O segundo largo tem a melhor rocha desta Baía. Uma fissura que segue oblíqua para a esquerda, muito bem delineada e subprumada, para a qual se propõe 7b.
Foi afinal este chamativo troço de granito cor de ferrugem, com quase 15 metros, que inicialmente, captou a atenção. Calça aliens e algum friend mediano.
Levar friends para montar a R2 nos blocos, ao final da dita fenda.
Neste segundo lance convém proteger a gosto e qb para não se encontrar com o terraço da reunião, em caso de queda.
fotos cortesia de M.CatitaFinalmente, um largo de 6b, acessível mas algo exposto.
Sair pela direita, e seguindo pelo plano esquerdo do diedro que leva até ao cimo da falésia, superando algumas panças. Atenção aos meandros com a corda e à força com que se tracciona dos blocos.
Esta via acaba com um ressalte terroso até a um penedo onde se encontram as 2 únicas plaquetes instaladas em toda a via.
Daqui os cuidados ainda não acabaram. Há que sair (encordado se necessário) por uma rampa pronunciada de chorões, terra e pedra solta até à pendente que nos trouxe a esta baía.
No croqui que se disponibiliza, figuram também as outras duas vias conhecidas neste sítio: “Terror da Baía” e "Caracol aterrorizado", obras do braço armado do
rppd.
Fotos F.Pereira A aproximação desta Baía faz-se a partir do acesso normal à zona do Espinhaço, pela esplanada de estacionamento, descendo o carreiro até à travessia da linha de água.
Neste ponto, em vez de continuar pelo carreiro do Forte, seguir em frente, por um outro caminho algo indistinto, até a um colo. Daqui, olhando para baixo, vislumbra-se o rebordo superior da Baía do Terror.
A pendente é instável, à base de chorões, terra e pedras soltas e alguns ressaltes. Contornar os obstáculos com a atenção devida, buscando o caminho mais estável, visto que a pendente é forte e pode ser difícil corrigir algum desequilíbrio.
Ao se encontrar próximo do rebordo superior da Baía, buscar vestígios de passagem, contornando com a suficiente margem de distância, acima do rebordo e pela esquerda. Daí, em sentido descendente pronunciado até proximo do mar. Já se vão detectando traços de passagem dos pescadores. Destrepar uma rampa de rocha até à base da parede.
Todo este trajecto é exposto e exige capacidade de intuição do caminho menos arriscado considerando o peso adicional dos equipamentos pessoais.
Edição de última hora: existe uma linha de rapel pela rampa tombada da direita da Baía. Um primeiro rapel de 50m e um segundo de 30m levam-nos até à base da parede. Esta manobra pressupõe o uso de corda dupla ou da fixação de uma corda simples a recolher no fim da escalada (!). Informação cedida por P. Roxo.
por Fernando Pereira